Homem armado invade agência do Banestes no ES

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Ilesos, os reféns foram liberados e também recebem atendimento médico no local, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública

Um ex-vigilante de 39 anos fez 20 reféns dentro de uma agência do Banestes em Cariacica-Sede, durante cinco horas, entre a tarde e a noite desta quarta-feira (20). Roberval Coutinho Barcelos deu um tiro no próprio peito, enquanto negociava com os policiais.
Tudo começou por volta das 16h15. Segundo informações do tenente-coronel Pires, do Batalhão de Missões Especiais (BME) da Polícia Militar, Roberval entrou na agência e começou a conversar com um dos vigilantes do local.
Foto: Ricardo Medeiros/Wing CostaRoberval entrou na agência por volta das 16h15 e tomou a arma do vigilante. O Batalhão de Missões Especiais da polícia fez um cerco e começou a negociar com ex-vigilante

“Durante essa conversa, ele teria distraído o vigilante, tomado a arma dele e rendido o outro. Daí começou toda a situação. No início houve muito nervosismo”, afirmou.
Ao todo, 20 pessoas estavam dentro da agência. De posse de duas armas, Roberval rendeu as vítimas e trancou as portas do local. Logo depois, soltou uma dessas pessoas, que estaria com problemas de saúde. Começou ali uma negociação de cinco horas.
Familiares do ex-vigilante que estavam no local, diziam não entender porque ele tomou essa atitude. Porém, a irmã mais velha de Roberval, a auxiliar de serviços gerais Lena Barcelos, 51, revela que ele está passando por depressão.
“A ex-mulher dele o trocou por outras pessoa, ele perdeu o emprego e há um ano nossa mãe, que ele era muito apegado, morreu. Aí ele colocou na cabeça que está com câncer e emagreceu uns 30 quilos”, contou.
A informação poderia ajudar a explicar a ação impensável de uma pessoa que nunca teve envolvimento com crimes.
Por volta das 21 horas, Roberval se levantou da cadeira onde estava sentado, dentro da agência, foi caminhando em direção à porta, colocou a arma no próprio peito e disparou.
Roberval Coutinho Barcelos é socorrido após render vítimas no Banestes – Crédito: Wagner Martins/TV Gazeta
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Após o gerente da agência abrir a porta e soltar os reféns, que ficaram ilesos, socorristas do Samu entraram no local. Roberval foi socorrido ao Hospital São Lucas ainda com vida, mas em estado crítico. As vítimas foram encaminhadas à 4ª Delegacia Regional.
Relato de desespero ao telefone
Uma das reféns do ex-vigilante Roberval Barcelos estava ao telefone com a filha quando a situação começou a acontecer. Ela é uma professora de 50 anos e estava no local
para pagar uma conta.
Segundo a sobrinha da vítima, a estudante Lorhayne Ruy, 28, tudo foi muito rápido.
“Ela estava no telefone com a filha e, de repente, disse: ‘meu Deus’. Aí desligou. Ela havia ido ao banco pagar uma conta e depois compraria material de construção para a obra na casa dela”, contou.
A estudante ainda afirmou que não sabia que a tia havia sido feita refém, quando passou pelo local de carro, no momento da ocorrência.
“Eu estava passando e me falaram da situação. Depois a filha dela me ligou e a gente veio para cá. É uma situação muito angustiante e complicada”, concluiu.
Vida virada pelo avesso
Foto: ReproduçãoRoberval Coutinho foi levado para o São Lucas

Diversos familiares do ex-vigilante Roberval Barcelos Coutinho, 39, se reuniram no local da ocorrência. Muitos deles defenderam o homem que rendia, armado, 20 pessoas dentro de uma agência bancária do Banestes. Há poucos anos, a vida do trabalhador desandou. Além de passar por um processo de separação, ele ainda perdeu o emprego. Em seguida, há cerca de um ano, a mãe dele morreu. Roberval era apegado a ela, segundo a irmã mais velha, Lena Barcelos.

Desde então, os primeiros sintomas de um problema psicológico começaram a aparecer.
“A gente percebeu que ele estava falando coisas sem sentido. Ele fez isso porque está doente. Sempre foi uma pessoa de bem”, afirmou a irmã.
Para completar, o ex-vigilante ainda colocou na cabeça que estava com câncer. O resultado foram 30 quilos a menos, alimentação ruim e o ápice do problema chegou quando ele fez os reféns no banco. Agora, ele está entre a vida e a morte.
Entrevista
“Eu achei até que fosse brincadeira”
Filho de um dos gerentes do Banestes, que ficou refém de Roberval, o analista de importação Leonardo Barcelos, 33, entrou em contato com o pai algumas vezes durante o sequestro.
Como você ficou sabendo do que aconteceu?
Foto: Ricardo MedeirosLeonardo Barcelos é filho de um dos gerentes do banco

Meu pai me ligou e contou. Falou que estava sendo mantido refém por um rapaz. Estava falando baixo. Eu achei até que fosse brincadeira, mas ele disse que não.

O que ele falou sobre a situação lá dentro?
Disse que era um homem e que não se tratava de um assalto. Que ele havia tomado as armas dos vigilantes. Nos falamos por cerca de 30 segundos inicialmente.
Ele trabalha no banco há quanto tempo?
Tem uns seis ou sete anos que ele trabalhar ali naquela agência.
Seu pai te ligou mais vezes depois da primeira?
Ele conseguiu falar comigo de novo, algumas horas depois. Disse que o rapaz estava mais calmo e não iria machucar ninguém no local.
Ele presenciou o momento do disparo?
Ele viu só o rapaz de costas e ouviu o tiro. Depois ele caiu no chão. Aí meu pai correu e abriu a porta do banco.
Clima de tensão e diálogo
Muitos curiosos, familiares de vítimas do ex-vigilante, policiais, bombeiros e socorristas estiveram no local do sequestro, em Cariacica-Sede. O clima era de muita tensão em todas as partes, principalmente entre os policiais militares do Batalhão de Missões Especiais (BME).
A todo momento, a equipe de negociadores tentava acalmar e fazer com que Roberval liberasse os reféns. A preocupação do tenente-coronel Pires, que comandava a operação, também era com a vida do ex-vigilante. “A gente manteve sempre contato face a face com ele, tentando acalmá-lo e fazer com que se rendesse sem machucar ninguém, ou a ele mesmo”, afirmou.
Entre os familiares e curiosos, muita aflição. A todo momento, eles estavam à procura de notícias sobre o estado de saúde e o andamento da negociação.
A dona de casa Ster Maria Gonçalves, de 59 anos, não conhecia nenhum dos reféns ou o sequestrador. Mas foi até o local fazer uma oração e tentar dar um apoio. “Estou orando ajoelhada para que todos saiam ilesos. Ele se entregue e tudo acabe bem. Isso não é uma coisa comum aqui no nosso bairro. Só Deus para ajudar”, afirmou.
Após Roberval atirar no próprio peito, houve muito desespero entre os familiares dele. Os reféns saíram da agência ilesos. Mais de 40 policiais militares, vários socorristas e homens do Corpo de Bombeiros participaram da ação.

Fonte: A Gazeta