Quatrocentos macacos já morreram afetados pela febre amarela no ES

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1_febre_2-4856606Severamente afetada pela febre amarela silvestre, a população de macacos do Espírito Santo têm sofrido com o surto do vírus , que se espalha pelas florestas do Estado. Até agora, cerca de 400 primatas já foram encontrados mortos com suspeita da doença. Mas o número, que já é grande, deve ser ainda muito maior. De acordo com especialistas, milhares desses animais podem já ter morrido mata a dentro sem terem sido encontrados.

“Só são percebidos aqueles que moram próximos às casas ou que são achados em beiras de matas. Os que morrem no interior da mata, ninguém percebe, ninguém vê”, explica o professor de Zoologia da Ufes, Sérgio Lucena.

O biólogo é o coordenador do projeto Muriqui, que em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), mapeia as regiões onde os animais são achados. Segundo Lucena, cinco espécies de macacos que habitam as regiões onde há surto da sofrem risco de extinção. Entre elas, estão os macacos barbados (ou bugios) e os sauás, que vêm morrendo em função do vírus.

Macacos pertencentes a outras duas espécies, que não sofrem risco de extinção, também foram achados mortos com suspeita da zoonose: o sagui-da-cara branca e o macaco-prego de topete. Para Lucena, trata-se de um desastre ambiental.

“Estamos perdendo de centenas ou milhares de macacos de espécies ameaçadas de extinção. Em matas menores, elas podem até se extinguir localmente. Esperamos que em matas maiores elas resistam. Mas mesmo nesses locais, que são as unidades de conservação, a virose está chegando. Isso preocupa, pois são os principais refúgios para essas espécies”, lamenta.

Mortes já foram registradas nas florestas da região Serrana do Estado e vêm avançando para as regiões Sul e Leste, alcançando municípios como Castelo, Dores do Rio Preto e Santa Teresa, na divisa com Fundão.

“Sem contar com uma outra frente de entrada de mortes pelo Vale do Rio Doce, no norte do Estado. Mas, ao que tudo indica, a febre não chegou ao litoral. Está concentrada na região rural e também não atingiu o Nordeste do Estado. De Linhares para o norte não há registros de mortes”, diz Lucena.

Ao contrário dos seres humanos, que podem evitar a infecção por meio das vacinas, não há nada que se possa fazer pelos macacos neste momento. Por isso, obter mais informações sobre o surto atual pode ajudar a prevenir ou atenuar epidemias futuras. “Estamos montando um projeto para estudar a ecologia do surto e preencher essas lacunas de conhecimento”, conclui Lucena.

Cariacica: Casos serão investigados

Dois macacos mortos foram encontrados na reserva Biológica de Duas Bocas, em Cariacica, no final da última semana. De acordo com o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), tratam-se de um macaco barbado e um macaco prego, que foram recolhidos e levados para avaliação.

O Iema afirma que os animais foram encaminhados à Secretária Municipal de Saúde de Cariacica e do Projeto Muriqui. A área, assim como as demais unidades de conservação do Estado, está sendo monitorada. A Reserva Biológica é de uso restrito e não recebe turistas, apenas pesquisadores e grupos com reservas previamente agendadas, que no momento estão suspensas.

Já a prefeitura de Cariacica informou que enviará as amostras dos animais mortos para a Secretaria de Estado de Saúde até hoje, afim de que sejam encaminhadas pera análise. De acordo com o professor de zoonose da Ufes, Sérgio Lucena, apesar de não haver confirmação, o padrão de mortalidade indica que os primatas foram vítimas da febre amarela.