Número é referente ao ano de 2021. Além de todo impacto social, a gravidez em mulheres jovens também traz riscos para as adolescentes e para os bebês, afirma obstetra.
Uma menina cheia de sonhos e o maior deles é ser modelo, fazer fotos e campanhas publicitárias. Mas, aos 14 anos, Taislane descobriu que estava grávida e tudo mudou.
“É difícil, na minha idade, me ver como mãe”, falou a estudante Taislane Vieira de Almeida.
Taislane, grávida aos 14 anos, sentada na cama de casa em que vive com a mãe — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Apesar da barriguinha de cinco meses já despontando, a ideia de ser mãe ainda assusta a menina.
“Meu medo é que eu penso se eu não conseguir cuidar da criança. Mas, com fé em Deus, eu vou conseguir”, disse a adolescente.
Barriga de Taislane, que espera o primeiro filho — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Taislane mora com a mãe em uma casa muito simples, em Vila Velha, na Grande Vitória. Um barraquinho de tábuas, cheio de frestas, sem geladeira, fogão a gás ou mesmo energia elétrica. O chão é de terra, coberto apenas por tapetes.
“Um espaço desse não é exatamente um local de uma criança nascer no momento. Mas é aqui que a gente está conseguindo sobreviver é aqui que a gente tá vivendo, é por aqui que estamos lutando”, disse emocionada a mãe de Taislane, a cabelereira Gilmara Lopes Vieira.
Apesar de ter ficado muito impactada com a notícia da gravidez da filha, Gilmara decidiu apoiar. Ela também foi mãe adolescente e teve que abandonar tudo para criar as filhas.
“Porque filho a gente não abandona, a gente cuida, independente de qualquer coisa”, defendeu Gilmara.
Agora, a mãe quer dar todo apoio para que Taislane não abandone os estudos e os sonhos.
“Eu estou estudando e vou continuar, porque é importante meus estudos, por mais que estou grávida, vou continuar estudando sim. Vou continuar correndo atrás, para conseguir meu sonho. O que a gente quer, tem que correr atrás”, disse Taislane.
O médico Luiz Alberto Sobral, obstetra e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explicou que a gravidez na adolescência acontece em todas as faixas sociais, mas as meninas mais pobres são as que mais sofrem as consequências.
“O suporte familiar que ela tem, o suporte social que ela tem não vai permitir a ela a recuperação tão rápida por essa questão de ter que cuidar de uma criança”, afirmou o médico.
Da esquerda para a direita, Taislane e Gilmara — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Em 2021, 282 crianças nasceram de meninas com menos de 15 anos no ES. Além de todo impacto social, a gravidez em mulheres tão jovens também traz riscos para as adolescentes e para os bebês.
“É comum um número maior de abortos, parto prematuro, algumas vezes essa menina demora a descobrir que está grávida, ou esconde a gravidez, então o pré-natal fica retardado, ela acaba tendo mais chances de ter complicações na gravidez e até a mortalidade nas adolescentes é maior que nas faixas etárias adultas”, explicou o obstetra.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o número de mães de até 14 anos caiu no Brasil. A redução foi de 38% nos últimos oito anos, passando de 28.245 em 2014 para 17.316 em 2021.
Casa em que Taislane mora com a mãe é de chão de terra, coberto por tapetes — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Na opinião do médico, o único caminho para reduzir ainda mais os índices de gravidez na adolescência é a educação sexual.
“O importante é a educação sexual, a conversa aberta com as crianças na escola na família sobre o início da atividade sexual, sobre possibilidade de contracepção, que é hoje tem no SUS, para que a gente possa ter uma diminuição e um enfrentamento para esse problema”, afirmou o obstetra.
Gilmara, à esquerda, acaricia barriga da filha, Taislane, que está grávida aos 14 anos — Foto: Reprodução/TV Gazeta