Renato Casagrande afirma que ES está preparado para começar a vacinar

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O governador faz um balanço de 2020, aponta caminhos para lidar com a pandemia e se assume como interlocutor político com o governo federal

 

fonte: Redação Folha Vitória

Um ano difícil, com lições importantes e com uma complicada gestão de crise pela frente. Mas, a vacina contra a covid-19, já aprovada e sendo aplicada em alguns países, e em ritmo de aprovação no Brasil, em meio a uma batalha que envolve polarização ideológica, disputa política e ciência, é uma das esperanças e maiores expectativas. Pelo menos é assim que pensa o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB).

O governador despontou em 2020 como uma liderança nacional capaz de dialogar com o governo do presidente Jair Bolsonaro, mesmo com diferenças ideológicas que alimentam um tensionamento que toma conta de todo o País, desde discussões em família até articulações políticas que podem sacramentar os caminhos que definem o futuro da nação. E tudo justamente em um período que ficará marcado na história mundial.

Em entrevista ao Jornal da TV Vitória, exibida na noite desta sexta-feira (25), e ao Folha Vitória, Casagrande faz um balanço de 2020, afirma que os desafios continuam no ano que vem, fala sobre gestão política, interlocução com o governo federal e eleição da Mesa Diretora da Assembleia.

CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA 

Como começar 2021? Quais as expectativas do governo? O que esta sendo planejado para o próximo ano?

Nossa grande esperança é que de fato a gente tenha, a partir de fevereiro, o início da vacinação. Que a vacina chegue aos brasileiros em fevereiro de 2021. Há possibilidade de chegar. Conquistamos isso pelo debate com o governo federal, com o Presidente, com o ministro Pazuello (Saúde), com a coordenação nacional. O governo federal vai coordenar o Plano Nacional de Imunização. Vai adquirir, segundo eles, todas as vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e nós estamos preparados no Espírito Santo para começar a vacinar. Temos seringas, temos experiência, já falamos com os municípios e temos todas as condições de começar o programa de vacinação aqui em fevereiro. Vamos começar com profissionais de saúde, com pessoas de mais idade. A vacinação deve perdurar durante o ano de 2021 todo. Mesmo com a expectativa, temos que dizer que estamos perdendo em média 25 pessoas por dia neste momento. Pessoas que morrem de covid-19 no Estado. E se você acha que o problema está resolvido por causa da vacina, não está resolvido ainda porque a vacina não chegou. Então, é preciso que a gente tome muitos cuidados.

Antes da expectativa da vacina, para fevereiro, a gente enfrenta festas de fim de ano, verão, que é um período de movimento nas praias do Estado e por isso, serão momentos de aglomerações. Qual será o papel do governo?

Estamos pedindo primeiro responsabilidade. Neste Natal, Ano Novo, verão. É preciso que neste ano e início do ano que vem seja diferente do que a gente vivenciou na nossa vida toda. Nós temos que ter cuidados. É preciso que tenhamos um período de muita empatia e de muita responsabilidade individual. Só assim que a gente consegue romper a pandemia. De qualquer maneira, nós vamos prosseguir com a classificação de risco e nossa fiscalização será em parceria com os municípios. Então, nós vamos tomando as medidas adequadas para fiscalizar quem não estiver cumprindo o que for determinado por nossa Sala de Situação.

O senhor acredita que a retomada da economia depende da chegada da vacina?

Uma retomada consistente depende da chegada da vacina. Porque isso animará a economia, permitirá que a gente não tenha instabilidade. E não estou falando apenas de atividades econômicas. Permitirá que a gente volte a ter fluxo turístico mais intenso, permitirá que a gente tenha eventos, shows, que a gente possa voltar à vida normal. De qualquer maneira, o Estado está preparado para essa retomada. Nós temos estabilidade política, gestão fiscal, somos um estado organizado, que tem o Fundo Soberano, que as condições de andar com velocidade nos investimentos de infraestrutura, na atração de empreendimentos. Então, tendo a vacina, e com as condições que o Espírito Santo tem, pode ter certeza que a gente vai andar muito mais veloz que a maioria dos estados do Brasil.

Este ano o Estado enfrentou três meses de déficit na arrecadação. Uma perda em abril, maio e junho de mais de R$ 360 milhões em comparação com 2019. Em julho, a arrecadação começou a ficar no azul . Qual a expectativa para 2021?

Nós estamos fechando 2020 equilibrado como no ano passado. Tivemos queda de receita, perdemos no petróleo, porque caiu o preço, caiu o consumo, pela paradeira do mundo, então reduziu a atividade econômica. Em compensação, tivemos um aumento de outros tributos e tivemos uma ajuda do governo federal, para os estados e municípios. Vamos fechar empatados com o ano de 2019. Lembrando que no ano que vem nós não teremos mais ajuda do governo federal. É bom que a gente compreenda que em 2021 vamos ter que ficar observando bem o desempenho da economia, porque a nossa receita depende disso. Nossa expectativa é que a gente volte à normalidade. Voltando à normalidade da receita nesses últimos meses do ano, esperamos que também no ano que vem comece com a receita se comportando de forma normal e isso permite que a gente faça todos os investimentos que estamos programando.

O senhor lançou um pacote de medidas para recuperar a economia, inclusive com a promessa de geração de 100 mil empregos nos próximos dois anos. Esta semana foram divulgados novos números sobre o desemprego no Brasil e o número chega a 14 milhões de desempregados. Aqui no Estado são pelo menos 250 mil desempregados…

É verdade, é muita gente desempregada. Ainda excluindo aqueles que desistiram de procurar emprego. Nós temos uma situação, para 2021, muito delicada. Porque esse número torna as pessoas mais vulneráveis, por passar dificuldades. Isso exige que a administração pública faça um grande trabalho de apoio a essas famílias que terão dificuldade em 2021. Então a agenda de 2021 vai ser vacina, enfrentamento às desigualdades que aumentaram em função da pandemia, recuperar a educação, uma vez que o ano meio que foi perdido em 2020. Então a gente tem bem definido o que é prioridade em 2021. Isso desde que a gente consiga ir voltando ao normal em relação à pandemia.

Em 2021 a gente tem novos prefeitos. A maioria são novos, outros reeleitos. O senhor acredita que vai ter um bom trânsito entre todos?

Acredito que terei sim um bom trânsito, terei capacidade de me relacionar com todos. A minha postura durante a eleição foi para isso. Fiquei numa posição equidistante do processo eleitoral para que a gente possa manter viável o apoio aos municípios. Então, da minha parte, da parte do governo do Estado, nós manteremos investimento e diálogo em todos os municípios. Só não vamos estabelecer relação política com quem não quiser. Mesmo assim eu farei investimento em todos os municípios do Estado, independente do gestor ter interesse ou não em manter relação com o governo do Estado. Isso porque a gente tem que trabalhar para a população. Mesmo que o prefeito não queira, o governo trabalhará junto a cada município.

E a respeito do contato, dessa relação com o governo federal daqui para frente?

É um contato muito bom, institucional. Todo mundo sabe que eu e o presidente Jair Bolsonaro temos diferenças em alguns pontos de vista, pensamentos e em algumas práticas. Mas, isso não tem efeito com nenhuma atitude dele me desrespeitando, nem minha desrespeitando ele. A gente consegue debater as diferenças da sociedade brasileiras. Mesmo assim mantemos uma boa relação. Tanto que eu estive com ele agora recentemente. Também tenho uma boa relação institucional com todos os ministros. E é isso que vai orientar minha ação e sempre de olho no interesse do Estado.

O senhor, como bem disse, esteve com o Presidente em Brasília, levou presentes, uma panela de barro daqui do Estado…Em função dessa boa relação com o governo federal, apesar de algumas diferenças ideológicas, o senhor acha que pode desempenhar um papel de interlocutor dos governadores com o Presidente?

Eu estive com o Presidente, levei uma camisa com a receita da moqueca capixaba, levei uma panela de barro… Só não levei o peixe e nem o coentro (risos). A reunião foi muito boa, produtiva, e nós temos um fórum de governadores. Não tem uma coordenação, mas a gente trabalha junto, não tem ninguém ali que exerce um papel específico de interlocução com o governo. Dependendo do assunto a gente escolhe um ou outro governador para fazer esse trabalho. Quem mais nos recebia em Brasília era o governador do Distrito Federal, o Ibaneis (Rocha, do MDB).

O Presidente tem um diálogo difícil com o governador de São Paulo, com alguns governadores do Nordeste, com o governo do Rio de Janeiro. O senhor acha que desponta como uma liderança capaz de trazer o diálogo entre os governadores do País e a Presidência? O mesmo diálogo que o senhor prega aqui no Espírito Santo?

Acho que eu posso colaborar como estou colaborando. De fato, sei conviver com quem pensa diferente de mim. Tendo respeito, é possível a gente avançar muito. Eu estou colaborando nisso, nesse trabalho da vacina mesmo. Eu e outros governadores fizemos um trabalho de algodão entre os cristais, porque essa disputa entre o governo federal e o governo de São Paulo é muito forte. E essa disputa antecipada visando o processo eleitoral de 2022 nos atrapalha. Então, entramos para poder construir um ambiente de diálogo com o Ministério da Saúde, com a Presidência da República, então eu tenho feito esse papel.

O senhor afirma categoricamente que a vacina foi politizada?

A vacina não só foi como está sendo politizada ainda. Todas as questões da pandemia foram politizadas. Na hora que você tem um debate sobre se deve ou não vacinar, receber a vacina, a pessoa vai pensar se recebe ou não a vacina porque as pessoas desconfiam que a vacina pode ou não ter efeito, acham que a vacina pode te causar um mal, ou é chinesa, você coloca uma carga de ideologia em algo que foi feito por cientistas. As evidências científicas têm que orientar o nosso trabalho e esse tem que ser o tom desse debate. A vacina foi politizada, a máscara foi politizada, o distanciamento social foi politizado, então todos os temas foram politizados na pandemia.

O senhor não acha que o cidadão deve ter liberdade para escolher se vacinar ou não?

Acho que ele pode escolher. Mas, acho que a sociedade pode escolher também impor limitações a ele. Porque nós não estamos tratando de um direito individual que não causa efeito na outra pessoa. A pessoa que não recebe a vacina e que transmite o vírus pode tirar a vida de outra pessoa. Então essa atitude afeta a vida de muitas outras pessoas que não tiveram a chance ainda de receber a vacina. É uma responsabilidade individual que afeta outras pessoas. É preciso que as pessoas compreendam. Você pode até não receber a vacina, mas, de fato, vai estar restrito em alcançar algum serviço público. Como por exemplo fazer um concurso ou algum outro serviço que a pessoa não receberá porque não quis tomar a vacina.

Como o senhor avalia o processo eleitoral que aconteceu este ano?

Avalio de forma muito positiva, porque o meu partido teve o melhor desempenho do Estado, em termos de número de votos e eleitos, tanto prefeitos como vereadores. Sem eu estar envolvido diretamente no processo. Meus aliados também tiveram um bom resultado. Quem se elegeu e aparentemente não é um aliado não tem dificuldade em conversar comigo. Acho que para um ambiente de governo e para a governabilidade o resultado da eleição foi muito bom. Então estou muito feliz com o resultado da eleição. Eu saí como governador, em condições de dialogar com todos os prefeitos e prefeita eleitos. Isso não significa nada em relação às eleições de 2022, porque não tem candidato ainda. Nem eu mesmo sei ainda se serei candidato.

O senhor acha que começa a discussão de 2022 agora?

Tem gente que já começou… lá em 2018! Mas, em política, quem começa muito cedo erra e quem começa muito tarde também. Acho que tem a hora para começar a tratar de política que é o início de 2022. Neste momento é que teremos que tratar de política, em 2022.

A gente começa 2021 com uma eleição, da Mesa Diretora da Assembleia. E que já teve uma tentativa de antecipação com a eleição do presidente atual no fim de 2019. Mas, ele voltou atrás por causa da repercussão negativa, inclusive por parte do senhor na época. O senhor tem candidato para a eleição da Assembleia? Qual o balanço que o senhor faz da liderança do deputado Erick Musso?

Nós temos uma relação com resultados muito bons na Assembleia. Primeiro,  todas as matérias que a gente encaminhou… O que não foi votado foi por causa de tempo hábil… mas, matérias importantíssimas foram votadas. Fundo Soberano, Fundo de Infraestrutura, Previdência, Código de Ética dos militares… todas as matérias referentes a saúde, covid. Tudo que a gente quis votar a Assembleia nos deu apoio. Então, sou muito grato à Casa. O que eu pedi aos parlamentares foi que a gente tratasse de eleição da Mesa em janeiro. Estamos fechando o ano de 2020 ainda na Assembleia e se começa a misturar eleição de Mesa com votação de matéria acontece o que está acontecendo na Câmara dos Deputados. Muitas matérias não foram votadas por causa das tensões que já aconteceram lá. Eu sei que a Assembleia tem independência, mas precisa ter uma harmonia e um diálogo entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo e nós temos condições efetivas de continuar com essa harmonia na Assembleia. Então nós vamos conversar com eles agora no mês de janeiro.

O senhor considera que a presidência de Erick Musso foi positiva?

Foi uma presidência que mostrou resultado em votação de matérias. Teve episódios polêmicos, como a antecipação da eleição da Mesa Diretora (realizada em 27 de novembro de 2019, na qual Erick Musso foi eleito com o voto de 24 deputados). Nesse caso eu deixei clara a minha discordância, mas ao longo do tempo foi uma atuação muito produtiva, com as matérias votadas e aprovadas dando estabilidade política ao Estado.

O senhor pensa em fazer reforma do secretariado no começo de 2021?

Mudanças pontuais. Não uma reforma grande, mas pequenas mudanças farei sim. Até porque é preciso fazer uma avaliação do desempenho do governo. O governo está muito bem, graças a Deus, com muitos resultados. Então as mudanças são poucas e certamente em fevereiro uma ou outra coisa nós faremos.

Já dá para antecipar alguma coisa?

Ainda não. Vou cuidar agora da Assembleia e depois a gente cuida da questão do governo.

Como o senhor vê a eleição da Câmara dos Deputados e como o senhor acha que isso pode se refletir para nós aqui no Estado?

Será uma eleição muito equilibrada, entre o Baleia Rossi (MDB) e o Arthur Lira (PP). Será o Baleia Rossi o candidato do Rodrigo Maia (DEM). O resultado será com uma margem pequena para um ou para outro. A bancada capixaba se dividirá nesse apoio para um ou para outro. E como eu não sou deputado eu acompanho à distância porque tenho que manter relações com os que estão no Congresso. Então minha participação tangencia o assunto. Eu não entro de cabeça nesse tema.

Qual o candidato mais interessante? Baleia Rossi ou Arthur Lira?

Para não entrar no tema, eu não posso dar minha opinião. Se eu der minha opinião eu começo a arrumar um problema para o Estado do Espírito Santo. Por isso vou ficar como observador dessa cena

E como vai ser o ano político do governador e do Espírito Santo?

Vai ser um ano pesado de novo. Para nós, que governamos, nunca tem ano leve, mas a repercussão da pandemia, a onda, está sendo formada e causando efeito em 2021. Porque continua. Vamos ter programa de vacinação o ano todo, os óbitos infelizmente vão continuar, vamos ter que recuperar a educação, vamos ter que cuidar da desigualdade social, nós vamos ter que continuar abrindo leitos em hospitais. Nós vamos ter ainda uma gestão da pandemia muito forte e vamos ter que retomar a economia para gerar emprego. É um trabalho em duas grandes vertentes: saúde e economia.